"Portugal não deve competir com salários baixos"
"O país não deve competir com salários baixos por uma razão muito simples: Por mais baixo que fossem os nossos salários, havia sempre países com salários mais baixos que os nossos, portanto não é um modelo para a economia portuguesa", disse Mira Amaral, à margem do Fórum de Administradores de Empresas (FAE), que hoje decorreu em Lisboa.
Contudo, destacou, que é preciso ter consciência que "felizmente ou infelizmente existem empresas, nomeadamente nos setores tradicionais, que vêm do passado e conseguem aguentar emprego porque pagam salários baixos".
"Se o salário mínimo for aumentado sem algum bom senso, obviamente nesses casos destruiremos emprego. O dilema que se põe, e que não é agradável, é dramático, é que ou mantemos algum emprego mal pago ou passamos essas pessoas para o desemprego", disse Mira Amaral, antigo ministro da Indústria e da Energia, do Governo de Cavaco Silva.
Questionado sobre o Orçamento do Estado (OE) para 2014, Mira Amaral afirmou que "aparentemente parece não ter um aumento de receitas, só cortes na despesa, mas isso é aparentemente".
"Há um conjunto de aumento de receitas nas chamadas tributações autónomas, como o aumento dos impostos sobre os automóveis das empresas e nomeadamente as contribuições para a segurança social dos órgãos sociais das empresas", exemplificou.
Mira Amaral afirmou que existe de facto neste OE aumentos de impostos que "estão encapotados" e não são tão visíveis, como quando são feitos no IRS, IRC e IVA".
Caso o Tribunal Constitucional (TC) venha a chumbar a austeridade prevista no orçamento para o próximo ano, Mira Amaral considera não ser uma boa solução o aumento do IVA.
Apesar de considerar um mau OE, Mira Amaral ainda assim diz que "é o possível" e que deve ser executado, pois isso é preferível de forma a poder evoluir-se para um programa cautelar e não para um segundo resgate.
Mira Amaral afirmou ainda que o Governo podia ter evitado "o complicómetro", nomeadamente com o regime de requalificação dos funcionários públicos, rejeitado pelo TC, tendo optado antes pela aplicação da lei da mobilidade do Governo Sócrates", que permitiria "o encerramento de muitos serviços públicos, por em casa as pessoas com 50% do salário e uma poupança significativa".